quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Poesia inédita de Paulo Leminski


Meu avó morava em uma "chácara" na continuação da Avenida Batel. Lembro que a casa, para mim, era um castelo. Aos olhos de uma criança tudo parecia ser enorme. Lembro bem da longa estrada que nos levava a casa, dos seus milhares de pinheiros, da sacada de pedra, da escada frontal, da sala de jantar com um corrimão que chamava qualquer criança a escorregar. Lembro de minha avó bordando em uma janela de vidro que tinha vista para o portão. Milhares de plantas, flores e bichos ao redor. E consigo sentir o aroma dos lençóis sendo "corados" ao sol.

O terreno era muito grande, além da casa, existia um galpão, uma garagem com alguns carros antigos, uma biblioteca feita de vidro bem no meio da mata e um rio. Lembro-me de que seu comesse tudo o que me serviam na hora do almoço, eu poderia ir catar pinhão e andar no rio. Eu sempre comia tudo!

Minha mãe me contou que era nessa biblioteca que meu tio Sérgio e o Paulo Leminski passavam as noites estudando. Estudavam as 7 línguas mortas. Segundo minha avó, o Sérgio e o Paulo só conversavam em latim.

A noite passava e os dois conversando, estudando, escrevendo, só iam dormir quando amanhecia o dia. Nessa hora minha mãe acordava e ia direto para a biblioteca arrumar os livros. O Paulo Leminski a ensinara arrumar todos por ordem alfabética. Todas as manhãs, minha mãe chegava e encontrava uns trocados, pagamento pelo serviço de arrumação dos livros.

Fico imaginando o quão fértil eram aquelas terras, pois nasceram poetas, pintores, fotógrafos, jornalistas, advogados, pessoas de bem e bom coração.

Após comentar a surpresa que tive ao ver a exposição sobre o Paulo Leminski no MON, vieram as histórias de família. Minha prima contou que no casamento de seus pais, meu tio Sérgio recebeu um presente do Paulo com um cartão, segundo ela, com uma frase maravilhosa, ainda não nos revelada. Ela também possui o livro Catatau de autoria do Paulo, assinada com seu polegar. Minha tia revelou que recebeu de presente, assinado e datado em 21/01/1960, uma poesia feita exclusivamente para ela. Com sua autorização, hoje, poderei publicá-la.

A poesia esta guardada até hoje em seu papel original, escrito em letra de forma, com formato infantil, com as seguintes palavras:

DIANA
Paulo Leminski
I
A tarde desmaia
Apolo vai cansado
Às aureas baias
Descanso dar ao iluminado
Carro brilhante do sol
II
A lua já nasce prateada
Banhando os bosques e as colinas
Onde o arroio sussurra escutadas
Palavras de amor das ninfas meninas
Aos faunos rupestres
III
Diana, Deusa caçadora
Já de ninfas cercadas
Afia as setas matadoras
E do arco de freixo armada
Aos campos sai silênciosa
IV
Qual javalí, qual veado
Dos golpes nāo se desconta
Se a Deusa no revaldo
As flechas lhe aponta
E as ninfas a observam
V
De carne providas
As ninfas regressam
E a Diana histórias vividas
De amores lhe contam
Que sorri compassiva
VI
A lua já está alta
E as ninfas a dormir estāo
Quando Diana se dirige
À gruta do gentil Endimiāo
Que repousa num leito de rosas.



Essas histórias vão muito além de serem contos familiares, são histórias e pessoas como essas que me fizeram crescer, aprender, e principalmente gostar de ler.

Viajar pelas páginas do conhecimento, viajar nas nuvens das lembranças, isso nos faz pessoas melhores, histórias e memórias de cada um, são os tijolinhos da construção de cada vida. Aí me pergunto, não está na hora de reunir a família e colocar as lembranças em dia? Quanto custa isso? Tempo? Quantas preciosidades estão "perdidas" em nossas casa, em nossa família com com nosso amigos e amores?

As lembranças e as histórias não podem ser esquecidas, nem devemos tentar apagá-las e sim, revivê-las, lembrá-las e perpetuá-las.

Hoje construímos nosso caminho e nossas lembranças futuras, mas quem irá contá-las aos nossos netos e bisnetos a saga que vivemos?

Reúna-se com a família e com os amigos, troquem lembranças, além de ser de graça, há possibilidade de boas risadas. Divirta-se: ontem, hoje e amanhã!

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